ando perdida nestes sonhos verdes
de ter nascido e não saber quem sou,
ando ceguinha a tatear paredes
e nem ao menos sei quem me cegou!
não vejo nada, tudo é morto e vago...
e a minha alma cega, ao abandono
faz-me lembrar o nenúfar dum lago
'stendendo as asas brancas cor do sonho
ter dentro d'alma na luz de todo o mundo
e não ver nada nesse mar sem fundo,
poetas meus irmãos, que triste sorte!...
e chamam-nos a nós iluminados!
pobres cegos sem culpas, sem pecados,
a sofrer pelos outros té à morte!
[Florbela Espanca]
2 comentários:
Venho aqui pela primeira vez e descubro duas coisas em comum: para além do gosto pela canela, o gosto musical. :) Hei-de voltar, certamente. E como não há dias sem três, este poema da Florbela Espanca, magnífico, que não conhecia, toca-me de modo muito especial. Vou 'roubá-lo', deixas?
Benvinda e obrigada pela visita. Estás à vontade para 'roubar' o poema!;)
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